quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Poema em homenagem a Clarice Lispector 

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...
Clarice Lispector

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


Poesia da dança


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles MEIRELES, C. Obra poética. Volume 4. Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira. Companhia J. Aguilar Editora. 1958. p 10.

O arcadismo é uma escola literária surgida na Europa no século XVIII, também denominada de setecentismo ou neoclassicismo. O nome "arcadismo" é uma referência àArcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal de inspiração poética.
A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz respeito. Por essa razão muitos poetas do arcadismo adotaram pseudônimos de pastores de Tetões gregos ou latinos. Caracteriza-se ainda pelo recurso a esquemas rítmicos mais graciosos.
Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime.
Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade, conceito originalmente expresso por Jean-Jacques Rousseau, na figura do “bom selvagem”.
No Brasil, vive-se o momento histórico da decadência do ciclo da mineração e da transferência do centro político do Nordeste (Salvador, na Bahia) para o Rio de Janeiro.
Aqui o marco inaugural do arcadismo deu-se em 1768 com a fundação da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica, e a publicação de “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa. Embora não chegue a constituir um grupo nos moldes das arcádias europeias, constituem a primeira geração literária brasileira.
Nesta colônia portuguesa, as ideias iluministas vieram ao encontro dos sentimentos e anseios nativistas, com maior repercussão em Vila Rica, centro econômico mais importante à época, em função da mineração. A figura do “bom selvagem” de Rousseau dará origem, na colônia, ao chamado Nativismo. O acontecimento político mais importante será a Inconfidência Mineira, tentativa mal-sucedida de libertar a província das Minas Gerais do domínio colonial português. A politização do movimento apresentou-se através dos poetas árcades brasileiros, participantes da Conjuração.
A chamada "Escola Setecentista" desenvolve-se até 1808 com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que com suas medidas político-administrativas, permitiu a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.

Entre as características do movimento no Brasil, destacam-se a introdução de paisagens tropicais, como em Caramuru, valorização da história colonial, o início do nacionalismo e da luta pela independência e a colocação da colônia como centro das atenções.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Análise e Resumo do Conto de Lygia Fagundes Teles

O conto das Formigas está presente no livro Seminário dos Ratos  e conta a história de duas amigas - primas e universitárias - que se mudam para uma pensão.
As duas são estudantes - uma de Direito e outra de Medicina - e nesse universo de superioridade feminina vamos encontrar, através da descrição da personagem – protagonista - um ambiente decadente, velho, sombrio e, talvez, assustador, desses locais onde tudo pode acontecer.
As garotas vão se instalar num quarto da pensão e descobrem que o antigo morador deixou lá um caixote com uns ossos guardados. A estudante de Medicina se interessa em abrir e ver, principalmente depois que descobre que o esqueleto é um artigo raro já que pertencia a um anão.
Durante a noite, o quarto é tomado por um cheiro de bolor e por uma invasão de formigas que não se sabe de onde vem e que tomam o recipiente onde está guardado os ossos, embaixo da cama da garota.
O que deixa a narrativa mais intrigante é que na mesma noite a garota sonhara com um anão, de olhos azuis, olhando para ela. Quando a outra vai investigar na caixa o que teria atraído as formigas, percebe que a posição dos ossos havia se mexido. Matam os insetos e, na manhã seguinte, não havia nenhum vestígio das formigas, embora elas não tenham limpado o local.
Na madrugada seguinte, depois de um novo pesadelo, a estudante e sua prima descobrem o retorno das formigas e que, mais uma vez, a posição do esqueleto foi alterada, parecendo que este está se reconstituindo.
Na terceira noite, elas ficam acordadas esperando para ver de onde vinham as formigas, mas adormecem, e quando acordam ficam apavoradas ao perceber que faltava apenas um osso da perna e outro do braço para que o esqueleto ficasse recomposto.
Elas fogem desesperadas da pensão.

Neste conto, a autora “brinca” com os opostos: a antiguidade e modernidade, sonho e realidade, vida e morte, curiosidade e medo, numa belíssima construção de um enredo que não se sabe como termina e que explicações podem ser plausíveis para dar veracidade aos acontecimentos.
Barroco



Nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de atingir, em uma forma modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente.
Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e à Contra-Reforma, distingue-se pelo esplendor exuberante. De certo modo o Barroco foi uma continuação natural do Renascimento, porque ambos os movimentos compartilharam de um profundo interesse pela arte da Antiguidade clássica, embora interpretando-a diferentemente. Enquanto no Renascimento o tratamento das temáticas enfatizava qualidades de moderação, economia formal, austeridade, equilíbrio e harmonia, o tratamento barroco de temas idênticos mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual. Mas nem sempre essas características são bem evidentes ou se apresentam todas ao mesmo tempo. Houve uma grande variedade de abordagens que foram englobadas sob a denominação genérica de "arte barroca", com certas escolas mais próximas do classicismo renascentista e outras mais afastadas dele, o que tem gerado muita polêmica e pouco consenso na conceituação e caracterização do estilo.

Para diversos pesquisadores o Barroco constitui não apenas um estilo artístico, mas todo um período histórico e um movimento sociocultural, onde se formularam novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. As mudanças introduzidas pelo espírito barroco se originaram, pois, de um grande respeito pela autoridade da tradição clássica, e de um desejo de superá-la com a criação de obras originais, dentro de um contexto que já se havia modificado profundamente em relação ao período anterior.
O Barroco no Brasil foi o estilo artístico dominante durante a maior parte do período colonial, encontrando um terreno receptivo para um rico florescimento. Fez sua aparição no país no início do século XVII, introduzido pormissionários católicos, especialmente jesuítas, que para lá se dirigiram a fim de catequizar e aculturar os povos indígenas, no contexto da colonização portuguesa daquelas terras vastas e virgens, descobertas pelos europeus há meros cem anos. Ao longo do período colonial vigorou uma íntima associação entre a Igreja e o Estado, mas como na colônia não havia uma corte que servisse de mecenas, como as elites não se preocuparam em construir palácios ou patrocinar as artes profanas senão no fim do período, e como a religião exercia enorme influência no cotidiano de todos, deste conjunto de fatores deriva que a vasta maioria do legado barroco brasileiro esteja na arte sacra: estatuária, pintura e obra de talha para decoração de igrejas e conventos ou para culto privado.
As características mais típicas do Barroco, descrito usualmente como um estilo dinâmico, narrativo, ornamental, dramático, cultivando os contrastes e uma plasticidade sedutora, veiculam um conteúdo programático articulado com requintes de retórica e grande pragmatismo. A arte barroca brasileira foi uma arte em essência funcional, prestando-se muito bem aos fins a que foi posta a servir: além de sua função puramente decorativa, facilitava a absorção da doutrina católica e dos costumes europeus pelos neófitos - primeiro índios, e logo em seguida negros - mas também fomentava o cultivo e confirmava a fé e as tradições dos conquistadores cristãos, que haviam chegado para dominar e explorar todo esse grande território, impondo-lhe sua cultura. Com o passar do tempo, os elementos dominados, neste caso mais o negro do que o índio, mais os artesãos populares de uma sociedade em processo de integração e estabilização, começaram a dar ao Barroco importado da Europa feições novas, originais, e por isso considera-se que essa aclimatação constitua um dos primeiros testemunhos da formação de uma cultura genuinamente nacional.
O poema épico Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, é um dos seus marcos iniciais. Atingiu o seu apogeu na literatura com o poeta Gregório de Matos e com o orador sacro Padre Antônio Vieira, e nas artes plásticas seus maiores expoentes foram Aleijadinho e Mestre Ataíde. No campo da arquitetura esta escola se enraizou principalmente no Nordeste e em Minas Gerais, mas deixou grandes e numerosos exemplos também por quase todo o restante do país, do Rio Grande do Sul ao Pará. Quanto à música, por relatos literários sabe-se que foi também pródiga, mas, ao contrário das outras artes, quase nada se salvou. Com o desenvolvimento do Neoclassicismo e do Academismo a partir das primeiras décadas do século XIX, a tradição barroca caiu rapidamente em desuso na cultura da elite.
Porém, ele sobreviveu na cultura popular especialmente em regiões interioranas, no trabalho de santeiros e em algumas festividades, e desde que os intelectuais modernistasiniciaram, no início do século XX, um processo de resgate do Barroco nacional, grande número de edificações e acervos de arte já foram protegidos pelo governo em suas várias instâncias, através de tombamento, musealização ou outros processos, atestando o reconhecimento oficial da importância do Barroco para a história da cultura brasileira. Centros históricos barrocos como os de Ouro Preto, Olinda e Salvador, e conjuntos artísticos como o do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, receberam o estatuto dePatrimônio da Humanidade pela chancela da Unesco, e essa herança preciosa é um dos grandes atrativos do turismo cultural no país, ao mesmo tempo em que se torna um ícone identificador do Brasil, tanto para naturais da terra como para os estrangeiros.

Apesar de sua importância, boa parte do legado material do Barroco brasileiro está em mau estado de conservação e exige restauro e outras medidas conservadoras, verificando-se frequentemente perdas ou degradação de exemplares valiosos em todas as modalidades artísticas; o país ainda tem muito a fazer para preservar parte tão importante de sua história, tradição e cultura. Por outro lado, parece crescer a conscientização da população em geral sobre a necessidade de proteger um patrimônio que é de todos e que pode reverter em benefício de todos, um benefício até econômico, se bem manejado e conservado. Museus nacionais a cada dia se esforçam por aprimorar suas técnicas e procedimentos, a bibliografia se avoluma, o governo têm investido bastante nesta área e até mesmo o bom mercado que a arte barroca nacional sempre encontra ajuda na sua valorização como peças merecedoras de atenção e cuidado.
Classicismo


Em Arte,o Classicismo refere-se, geralmente à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os classicistas pretendem imitar a arte feudal. A arte classicista procura a pureza formal, o equilíbrio, o rigor - ou, segundo a nomenclatura proposta por Friedrich Nietzsche: pretende ser mais apolínea que dionisíaca.
Alguns historiadores de arte, entre eles Giulio Carlo Argan, alegam que na História da arte concorrem duas grandes forças, constantes e antagônicas: uma delas é o espírito clássico, a outra, o romântico. As duas grandes manifestações classicistas da Idade Moderna europeia são o Renascimento, Humanismo e o Neoclassicismo. O termo clássico também serve para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística.

A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artísticas desse período são marcadas pela visão antropocêntrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quinhentismo 






Corresponde ao período literário que abrange todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seudescobrimento, durante o século XVI. É um movimento paralelo, ou seja, parecido ao Classicismo português e possui ideias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa. A literatura do A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor literário. A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia força no século XVII, durante as primeiras manifestações contra a Metrópole. Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material; informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa da Contrarreforma e representada pela literatura jesuítica da Companhia de Jesus.